sexta-feira, 2 de maio de 2014

Capitalismo e Socialismo [I]

"[...]"O Capitalismo" não é de todo uma forma de economia, nem um método "burguês" de fazer dinheiro. É uma maneira de ver as coisas. Há economistas que o encontraram na época de Carlos Magno e nas aldeias dos tempos primitivos. A ciência econômica, a partir de 1770, considerava a vida econômica, que em realidade é apenas um lado da existência histórica dos povos, do ponto de vista do comerciante inglês. Nesse tempo,a nação inglesa, de facto, estava a ponto de monopolizar o comércio mundial. Daí a sua reputação de povo de comerciantes, de massa de shopkeepers. O comerciante, porém, é apenas um intermediário. Ele pressupõe a própria vida econômica, procurando fazer de sua vida econômica o centro de gravidade dela, do qual todos os homens dependem na sua qualidade de produtores e de consumidores. 




Essa situação potencial foi descrita por Adam Smith. Eis a sua "ciência". É por isso que a ciência econômica parte, até os nossos dias, do conceito de preço, e, em vez da vida econômica e dos homens ativos, vê apenas mercadorias e mercados. É por esse motivo que desde então o trabalho é considerado como mercadoria e o salário como preço, sobretudo pela teoria socialista. Neste sistema não cabe nem o trabalho dirigente do empregador e do inventor, nem o trabalho do camponês. Somente se vêem mercadorias fabricadas, ou aveia ou porcos. E, passado pouco tempo, esquece-se completamente o camponês e o artífice e pensa-se, como Marx, na classificação dos homens em apenas duas classes: O operário assalariado e - os outros, os "exploradores".




Deste modo nasce a divisão artificial da "humanidade" em produtores e consumidores, que, nas mãos dos teóricos da luta de classes, se transformou no contraste pérfido de capitalistas e de proletários, de burguesia e de operariado, de exploradores e de explorados. Mas não se fala a respeito do comerciante, do verdadeiro "capitalista". O dono de fábrica e o agricultor são os inimigos visíveis porque eles tomam o trabalho e pagam os ordenados. Isto não tem sentido, mas é eficaz. A estupidez de uma teoria nunca foi um obstáculo para a sua divulgação. Para o autor de um sistema o importante é a crítica; para os crentes é o contrário.

O capitalismo e o socialismo têm a mesma idade, são interiormente parentes, têm a sua origem na mesma maneira de pensar e levam as mesmas consequências. O socialismo é senão o capitalismo da classe baixa. A doutrina livre-cambista manchesteriana de Cobden e o sistema comunista de Marx nasceram ambos aos 1840 e na Inglaterra. Marx ainda aplaudia o capitalismo livre-cambista:

"Em geral, hoje em dia o sistema protecionista é conservador, enquanto que o sistema livre-cambista tem um efeito destruidor. Decompõe as antigas nacionalidades e exacerba a oposição entre proletariado e burguesia. Numa palavra, o sistema de livre-câmbio acelera a revolução social. É somente nesse sentido que voto pelo livre câmbio."
Karl Marx, 1847 - Miséria da Filosofia


[Oswald Spengler - Anos de Decisão (1941), Edições Meridiano- Tradução de Herbert Caro- págs. 126 e 127]




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