sexta-feira, 2 de maio de 2014

Capitalismo e Socialismo [II]

"[..] O "Capitalismo de baixo" quer negociar a mercadoria "trabalho assalariado" ao preço mais alto possível, sem levar em consideração a capacidade de aquisitiva do comprador, e quer fornecer a mínima quantidade. Daí o ódio dos partidos socialistas contra o trabalho de qualidade e de empreitada; daí a sua tendência a suprimir, quanto possível, a diferença "aristocrática" entre os ordenados dos operários qualificados e dos que não têm conhecimentos de um ofício. Esses partidos querem aumentar o preço do trabalho manual por meio de greves - a primeira greve geral teve lugar na Inglaterra em 1841, - e, por fim, depois da expropriação das fábricas e das minas, fazê-lo fixar livremente pela burocracia dos chefes trabalhistas que então governariam o estado.

Pois que este é o sentido secreto da socialização. O "capitalismo de baixo" qualifica como roubo a propriedade adquirida pelo trabalho dos talentosos e superiores, para poder apoderar-se dela, sem trabalho, pondo em jogo o maior número de punhos. Assim nasce a teoria da luta de classes, que tem organização econômica, mas sentido político, adaptando-se a primeira aos sentimentos dos operários e o segundo ao proveito dos chefes trabalhistas.

Tratava-se de uma finalidade sem duração. Espíritos baixos nem se quer são capazes de estender o olhar, além do dia de amanhã, à distância dos tempos, nem de atuar para o futuro. A luta de classes devia conseguir destruição, nada mais. Devia desembaraçar-se das forças da tradição, tanto da política quanto da econômica, para dar a vingança e o domínio almejados aos poderes do submundo. Esses círculos nunca gastaram reflexão alguma pensando no que pudesse acontecer depois da vitória, uma vez que a luta de classes se tenha convertido num passado distante.

Assim começa, a partir de 1840, um ataque aniquilador à verdadeira vida econômica dos povos brancos, infinitamente complicada, ataque que se faz de dois lados: pelo grêmio dos negociantes de dinheiro e especuladores da alta finança, penetrando a vida econômica por meio das ações, do crédito e dos conselhos de administração, e fazendo depender dos seus interesses e das suas intenções o trabalho diretivo dos empregados profissionais, entre os quais se encontram muitos antigos trabalhadores manuais que subiram pelo próprio empenho e gênio. O verdadeiro chefe da economia chega a ser escravo do financista. Enquanto trabalha para o bem-estar de uma fábrica, pode acontecer que no mesmo instante ela seja arruinada por uma especulação da bolsa que ele mesmo ignora. 



E ademais, de baixo, o sindicato dos chefes trabalhistas destrói lenta e fatalmente o organismo da economia. A arma teórica de uns é a sábia ciência econômica "liberal" que forma a opinião pública a respeito dos problemas econômicos, intrometendo-se em forma consultiva e determinante na legislação; a arma dos outros é o Manifesto Comunista, com cujos princípios também intervêm as esquerdas de todos os parlamentos. E ambos defendem o princípio da "Internacional", princípio que é puramente niilista e negativo: dirige-se contra as formas históricas delimitadoras - cada forma, cada figura é limitação, - contra as formas do Estado, da nação, das economias nacionais, cuja soma representa a "economia mundial". Essas formas estorvam os planos da alta finança, tanto quanto os dos revolucionários profissionais. Por isso negam-nas e querem destruí-las.

Mas ambas as espécies de teoria estão hoje antiquadas. O que se pode dizer está dito a muito tempo, e ambas, a partir de 1918, ridicularizaram-se tanto a si próprias, pelas suas profecias - A respeito de Nova- York ou de Moscou, - que já somente são citadas, sem que ninguém acredite nelas. A revolução mundial começou à sua sombra. Talvez ela tenha chegado hoje ao seu auge, mas está longe de terminar. Mas, de qualquer forma, adota formas que estão livres de todo palavreado teórico."



[Oswald Spengler - Anos de Decisão (1941), Edições Meridiano- Tradução de Herbert Caro- págs. 128, 129 e 130]

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