domingo, 4 de maio de 2014

Raças e Idiomas

[...] " A raça é algo cósmico, psíquico. Está sujeita a certas periodicidades e, no seu íntimo, é condicionada também pelas grandes relações astronômicas. Os idiomas, por sua vez, são formações casuais, a atuarem pela polaridade dos seus meios.

Uma planta tem raça, mas somente os animais são capazes de receber a impressões da raça. A vigilância de seres do reino animal é sempre um ato de falar, seja qual for o modo empregado. Ao lado de tal idioma de expressão, que se destina ao mundo, coloca-se um idioma de comunicação, que pretende ser compreendido por determinadas criaturas. Aquele pressupõe apenas uma vigilância; este requer ainda uma ligação de consciências vigilantes. Não é possível traçar um limite exato, quando se trata de culturas elevadas, com seu idioma de expressão artístico e religioso. Sob esse prisma, podemos encarar as palavras primordiais totem e tabu. Quase todas as religiões tem um idioma secreto (tabu).

Em cada língua viva há, além da parte do tabu,que é susceptível de ser aprendida, certo traço racial, completamente incomunicável, que não pertence ao idioma, mas à fala. O mesmo se aplica à arte: ela terá vida, quando os artistas falarem o idioma formal como uma língua materna comum.

A casa rural é a expressão mais pura que existe da raça. Com a arquitetura superior, a cultura recebe o seu caráter tabu. O castelo, casa da aristocracia, e a catedral exaltam a distinção entre totem e tabu, fazendo com que ela alcance um simbolismo poderoso. A catedral é, ela mesma, um ornamento; o castelo pode estender ornamentos, que, nesse caso, representa simples enfeites. Depois de a arte ter-se tornado profana, nos períodos posteriores de todas as culturas, as próprias igrejas barrocas acham-se apenas revestidas de ornamentação.

Os idiomas podem deslocar-se, ao contrário da raça, a qual recebe o se caráter da paisagem. Quem se desloca são homens pertencentes a determinada raça, que, em outro solo, pode converter-se em outra raça. Na América do Norte, as pessoas que ali nasceram, falam da mesma maneira, quer descendam de ingleses ou alemães ou de índios e empreguem os idiomas dos seus antepassados. As raças humanas distinguem-se pelo modo de falar e não pela estrutura gramatical do idioma. Com a alma da paisagem, modifica-se a do microcosmos. Nesse caso, não se trata de uma adaptação, no sentido de Darwin, mas de uma identidade metafísica de ambas as almas. Somente sentimos a própria peculiaridade de uma raça, em confronto com a expressão de uma corrente existencial, quando essa última tiver vida. Pode-se falar de uma luta entre o sangue e o solo. Nela se formam as raças de uma cultura elevada, as misteriosas forças cósmicas do ritmo comum de coletividades estreitamente ligadas entre si.

A raça é a expressão da vida e da alma, projeta sobre os sentidos dos homens, é a expressão de algo metafísico, a comunicar-se aos sentidos, ou de modo psíquico, ou de modo algum. A noblesse francesa ou a aristocracia rural da Prússia são genuínas designações de raças, como também o é o tipo do judeu europeu com sua imensa energia racial, armazenada em mil anos de gueto. O conceito de raça, tal como o estabelece a ciência, é por sua vez, puramente materialista, porquanto foi derivado de aspectos avulsos, superficiais. O que importa é a expressão do movimento e não a da situação."


[Oswald Spengler - A Decadência do Ocidente (1964), Zahar Editores- Tradução de Herbert Caro - págs. 288 e 289]

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